segunda-feira, 9 de março de 2009



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Depois de cumprir uma agenda pública de eventos, Jackson Lago recebeu CartaCapital no escritório da residência oficial. Sereno, declarou-se otimista com o desfecho do processo no TSE. “Vou completar o meu mandato”, afirmou.
CartaCapital: Como o senhor passou a noite?
Jackson Lago: Na realidade, assistimos a um julgamento sem uniformidade, muito heterogêneo. Segundo os advogados, isso permite a retomada da batalha jurídica, com amplas possibilidades.
CC: O senhor está otimista?
JL: Sim. Não há nenhuma convicção firmada pelo conjunto do Tribunal. O que tornou possível a decisão deles? Fui a um ato público de aniversário da cidade de Codó no dia 16 de abril. Ela completava 110 anos, cujo prefeito é meu companheiro de partido e me convidou. Abril foi muito antes das convenções partidárias. Não havia nenhuma evidência de candidatura. Qual é o crime eleitoral, portanto?
CC: Mas o Ministério Público Eleitoral viu claras provas de crime.
JL: Não tem fundamento, não se sustenta.
CC: Na madrugada, ao fim do julgamento, o senhor disse que é preciso defender posições, inclusive com o risco da própria vida. Até onde o senhor vai para defender o seu mandato?
JL: Temos de fazer tudo que acreditamos. E eu acredito, primeiro, na Justiça. E no processo democrático. É preciso procurar, por meio da Justiça, consolidar o processo democrático. Se isso for impossível, coisa que não creio, pois entendo que é perfeitamente possível, é necessário ver o que pretende fazer a população que está sendo usurpada. Foi por isso que disse: se esta população quiser fazer valer os seus direitos, pode contar comigo.
CC: Há quanto tempo o senhor está na política?
JL: Estou na política desde a época de estudante, do início da minha vida acadêmica no Rio de Janeiro…
CC: O senhor imaginou, em algum momento, que enfrentaria uma situação como esta?
JL: Nunca tive nenhuma ilusão sobre a correlação de forças aqui do estado. Este desnível entre as elites que decidem e as correntes da população que pretendemos representar. Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2002, fui candidato a governador. Tive 42% dos votos. O então candidato da família Sarney, José Reinaldo Tavares, teve 48%. Outros dois tiveram 5% cada um. Ou seja, os meus e os votos dos outros candidatos somavam 52%. Mesmo assim, não teve segundo turno. O Sarney conseguiu um milagre lá em Brasília, no TSE, se não me engano presidido pelo atual ministro da Defesa, Nelson Jobim. Anulou os 5% de um dos partidos. E o que era 48% do Zé Reinaldo virou 50% e um pouquinho.
CC: A que o senhor atribui esses “milagres” da família Sarney?
JL: Um longo período de convivência com o poder. Civil, militar. Direita, esquerda, o Sarney está sempre lá. A situação do Maranhão é diferente da dos outros estados. Por que em todos os outros estados a alternância de poder é uma rotina e aqui não? Por que ela não é aceita? Em 1984, quando o povo saiu na expectativa das Diretas, foi derrotado pelo Sarney, dentro do Congresso, e pelo general Newton Cruz, nas ruas. Mas o Brasil é o país dos acordos, dos acordões. Qual foi a resultante? As Diretas derrotadas e, nas indiretas, tivemos o doutor Tancredo e o Sarney, presidente do partido da ditadura, candidato a vice. Para completar a obra, o doutor Tancredo morre e o Sarney vira presidente. No fim dos 21 anos do autoritarismo, todos os estados respiraram, encontram espaço. Mas aqui não. Foi o contrário. O homem que parecia cair junto com a estrutura que cedia acabou presidente da República. Foram mais vinte anos de controle. E agora, que houve alternância de poder, forja-se um processo para tentar mostrar que eles é que mandam, quando perdem no voto popular, mas ganham no tapetão.
CC: Se o TSE confirmar a cassação, o senhor pretende continuar na vida política?
JL: Na maior parte da minha vida, não tive mandato. Tenho projetos, objetivos, aos quais me dedico.
CC: Mas o senhor voltaria a se candidatar?
JL: Olha, se a população quiser e eu tiver saúde. Tenho consciência da minha responsabilidade social. Sou um soldado. Mas não tenho dúvida: completarei o meu mandato.
CC: Qual a maior dificuldade que o senhor enfrenta no governo?
JL: Há carências históricas fantásticas. Para se ter uma ideia, em oito anos, a Roseana construiu três escolas. Três. Com dois anos de governo, entreguei 160. Isso é uma gota d’água nas necessidades. Temos de fazer várias dezenas de escola. A Polícia Civil tem um efetivo de 1,5 mil funcionários. Vamos dar posse a 509. É um terço a mais da força. Mas não é nada. Tudo que se está fazendo em termos de oferta de serviços, principalmente na área de educação, é uma gota. Houve intencionalidade, ao longo de décadas, de manter as pessoas desinformadas para mais facilmente dominá-las. Então, tudo é difícil, apesar de também estarmos vivendo momentos muito importantes e alvissareiros no estado.
CC: O senhor se ressente pela aliança do presidente Lula com Sarney?
JL: Não. Tenho boa relação com o governo dele, com quase todos os ministros, com exceção de um, o de Transportes. Este não deixa que aconteça nada no Maranhão.
CC: E a relação com Lula?
JL: É muito boa. Agora é claro que há as alianças…
CC: O senhor já cobrou dele o fato de nunca ter visitado São Luís?
JL: Não, seria uma indelicadeza. Temos de compreender que ele precisa ter relações políticas. Se olharmos, o Senado é um poder de relativo equilíbrio. São 81 senadores e há um político que controla cerca de 10% desse poder… Então é preciso compreender essas relações. O lamentável é que se utilizem desse peso para tirar proveito. É lamentável a pobreza política do Brasil contemporâneo. Tem de acontecer alguma coisa para dar um choque nisso. Estamos em um processo de muita degradação, de muito desrespeito aos valores éticos.

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