segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Aderson Lago: Vivendo e lutando contra Sarney

ADERSON LAGO*

Como pode um poeta sem rima, um escritor medíocre, um cronista sem brilho, se tornar um imortal? Simples: ao morrer, José Sarney teria que ir para o Céu ou para o Inferno. No Céu, por tudo que é e pelo que representa, tem sua entrada proibida. No Inferno, o Diabo não aceita concorrência desleal. A solução foi colocá-lo na Academia Brasileira de Letras. Como imortal, Deus e o Diabo estarão livres dele. Pior para nós, pobres mortais, que aqui ficamos à mercê de suas mazelas, seus crimes, suas mentiras, e suas armações, ilimitadas e inescrupulosas.

Ao longo do tempo acompanhei e enfrentei, dentro do possível, todo o repertório de ilicitudes, falcatruas, crimes contra a honra, fraudes eleitorais, peculatos e infrações penais cometidos por Sarney e sua trupe. Fui a pedra no sapato, a espinha na garganta da oligarquia e por isso tenho sido nos últimos tempos o alvo predileto, a vítima constante, dos ataques e agressões perpetrados pela gangue Sarney. A eles não importa o quão estapafúrdia, mentirosa e inverossímil seja a pseudodenúncia, pois não há nenhum compromisso com a verdade. O importante é enlamear, com a mesma lama em que chafurdam, a honra e a dignidade daqueles que lhes fazem oposição. Imputar aos adversários os mesmos crimes dos quais são acusados com fartas e irrefutáveis provas. Fazer parecer aos mais desavisados que, assim como eles, todos que lhes fazem oposição também são corruptos e bandidos. Para a consecução desses objetivos utilizam-se do Sistema Mirante de Comunicação. O uso político desse poderoso ferramental de mídia, confessado pelo próprio Sarney em entrevista à revista CartaCapital, agora foi reforçado com a criação de uma Gestapo tupiniquim, a Polícia Política de sua filha Roseana. Tudo como na ditadura, da qual José Sarney foi filhote e expoente.

Primeiramente, foi a hilária acusação de desvio de colchões, montada pelo serviçal-mor, delegado Raimundo Cutrim. Em seguida, o fantasioso recebimento de 5 milhões de reais para ser candidato a governador em 2006. Aliás, nessa, o farsante José Sarney foi flagrado pela escuta telefônica da Polícia Federal (Operação Boi Barrica) cobrando do filho Fernando (indiciado por formação de quadrilha, crime contra o sistema financeiro e outros) a divulgação na TV Mirante da patranha por ele engendrada. Agora, o inescrupuloso e “incomum” José Sarney superou todas as expectativas. A última “montagem” contra mim mistura passagens aéreas, contas telefônicas, serviços não executados, desaparecimento de talheres, cafeteiras de aço, computadores e, pasmem, uma “escultura de São José com o Menino Jesus com detalhes em ouro, do século XVIII”. Aqui, definitivamente, o desmoralizado e desmemoriado presidente do Senado cometeu um ato falho e imprimiu as suas digitais. Notório colecionador de imagens sacras “desaparecidas”, para não dizer furtadas, de igrejas no interior do estado, Sarney incorporou ao seu patrimônio o Convento das Mercês, talvez porque acredite ser o local apropriado para abrigar os “santos” da sua devoção. Esse é o Sarney que tenta fazer de mim o marginal contumaz que é. Marginal sim, pois é marginal quem, como ele, costumeiramente age à margem da lei.

Se alguém deve explicações à Justiça certamente não sou eu. Tenho a consciência tranqüila de que não pratiquei nenhum ato indigno. Sarney sim tem muito o que explicar. Tem que deixar bem claro:

· como os umbrais do cemitério de Alcântara vieram adornar a entrada de sua mansão no Calhau

· como e onde conseguiu montar sua grande coleção de imagens sacras dos séculos XVII e XVIII

· como adquiriu o antigo “Jornal do Dia” (hoje “O Estado do Maranhão”) quando exercia o cargo de governador do Estado

· como conseguiu construir sua mansão do Calhau, sem despertar suspeitas, com a mesma empreiteira que construía na ocasião o Hospital do Ipem

· como comprou a Fazenda Maguari e “grilou” uma área contígua que triplicou a propriedade

· como sacou 2 milhões de reais do Banco Santos, de seu amigo Edemar Cid Ferreira, usando informação privilegiada na véspera de sua intervenção

· como fazia os famosos sorteios dirigidos de “relatores” quando foi diretor de Secretaria do Tribunal de Justiça

· como montou o seu império de comunicação (rádios e televisões), se o custo dos equipamentos é proibitivo para quem sempre viveu de salários como ele

· qual o critério usado para fazer jus às concessões dessas rádios e televisões se os beneficiários eram ele (então presidente da República ) e sua família

· por fim, e apenas para não nos alongarmos, como se tornou a maior fortuna do Maranhão sem herdar, sem ter sido empresário, sem acertar na Mega Sena acumulada, ou mesmo no jogo do bicho.

Agora, não vale mais dizer: “eu não sabia”, “não me sinto culpado” e “é uma campanha midiática contra mim”.

Tudo o que foi dito e que ainda possa se dizer sobre José Sarney ainda será insuficiente para traçar o perfil desse homem rancoroso, odiento, calculista, frio, obcecado pelo poder e que tenta sempre se apresentar como estadista, tolerante, afável e incapaz de ter ódio no coração. Que o diga o senador Epitácio Cafeteira, que em 1994 foi denunciado por Sarney como seqüestrador, assassino e ocultador do cadáver de Reis Pacheco. Vitorino Freire, de quem foi cria, dizia dele: “O Sarney furta até cinzeiro de avião”.

Sei do que Sarney e sua gente são capazes para exercerem sua vingança. Não haverá o menor escrúpulo na utilização de quaisquer métodos, por mais espúrios que sejam, para atingirem os seus objetivos. A meta é tornar-me inelegível. É inviabilizar a minha volta à tribuna da Assembléia. É calar a voz que muito os incomodou ao longo dos quatro mandatos que exerci. É assassinar-me politicamente. A luta, tenho consciência, será desigual, mas vou enfrentá-la com a mesma dignidade, com o mesmo desprendimento, com a mesma coragem com que exerci os sucessivos mandatos que o povo me conferiu. Que Deus me proteja, os amigos me ajudem e o povo me apóie.

(*) Ex-deputado estadual pelo PSDB

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