A descoberta e as posteriores desculpas do presidente do Senado, José Sarney, sobre o auxílio moradia, que ele recebia mesmo tendo uma mansão em Brasília, provocou indignação entre os principais jornalistas do País. O blog selecionou os artigos da cientista política e colunista de O Globo, Lucia Hippolito, e dos jornalistas Ricardo Noblat ( blog - O Globo Online) e Josias de Souza (blog - Folha Online). Leia abaixo:
Farra com o dinheiro do contribuinte
Francamente, Excelência!
Lucia Hippolito
Apanhado com a boca na botija recebendo mais de R$ 3.000,00 de auxílio-moradia, sendo proprietário de uma confortável residência em Brasília e dispondo ainda da residência oficial da Presidência do Senado, José Sarney pediu desculpas e alegou que não pediu auxílio-moradia e que “alguém” vem depositando em sua conta o auxílio-moradia desde meados de 2008.
(Na última terça-feira Sarney afirmara categoricamente que não recebia auxílio-moradia. Pelo visto, a memória voltou subitamente.)
O que dizer de um cidadão brasileiro que, checando sua conta bancária, encontra depósitos mensais de mais de R$ 3.000,00 e não tem a curiosidade de conhecer a identidade desse benfeitor anônimo que todo mês pinga um “capilé” em sua conta?
Sarney é um fofo!
E dizer que uma pessoa assim foi presidente da República por cinco longos anos!
José Sarney não é um iniciante na política. Bem ao contrário. Deputado federal em 1958 (há 51 anos!), governador em 1965 (com uma ajudinha do recém-criado SNI), senador, presidente da República, três vezes presidente do Senado. Sarney já foi tudo neste país.
Criou uma dinastia. Tem a filha e o filho na política.
Será que Sarney não sabe o que é certo e o que é errado? O que pode ser legalmente aceitável mas é eticamente inaceitável? Ou sabe e não se importa?
Um senador da República, presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, que tem residência em Brasília e tem ainda ao seu dispor a residência oficial do Senado, não lê seu contracheque ou não sabe que auxílio-moradia não se aplica?!
Desde a terceira eleição de Sarney para presidente do Senado, em 2009, os cidadãos brasileiros já tomaram conhecimento de que ele requisitou seguranças do Senado para fazer a segurança de sua residência em São Luís (MA), embora ele seja senador pelo Amapá.
Os cidadãos brasileiros também tomaram conhecimento de que, das 181 diretorias descobertas no Senado, pelo menos 50 foram criadas por José Sarney.
Os cidadãos brasileiros tomaram conhecimento, ainda, de que uma assessora para as campanhas de Sarney e da famiglia Sarney era também, nas horas vagas, diretora do Senado.
Flagrado, Sarney afastou a diretora… E a nomeou como assessora especial.
O que será que o senador Sarney pensa de nós, eleitores? Que somos um bando de bobos. Que aceitamos qualquer coisa.
Francamente, Excelência. Isto é inadmissível.
O melhor a fazer é renunciar à presidência do Senado. Além de devolver o dinheiro público, naturalmente.
Comentário
Sarney, assuma suas responsabilidades!
Ricardo Noblat
Vem cá. Quando imagino que o deboche dos políticos com o distinto público batera no teto, surge um fato novo capaz de provar que não há teto para o deboche deles.
Quer dizer que senadores, donos de imóveis em Brasília, receberam e continuarão recebendo auxílio moradia de R$ 3,8 mil mensais “por que a lei não diz que não pode” - e a lei “tem que ser igual para todos”, segundo o terceiro-secretário da direção do Senado, Mão Santa (PMDB-PI)?
O auxílio-moradia é pago… Para quem não tem moradia em Brasília. Muitos senadores moram em apartamentos do Senado. E sabe-se agora que pelo menos três deles, inquilinos de apartamentos do Senado, também embolsam o auxílio-moradia. Serão de fato os únicos?
Se forem, isso quer dizer que os demais senadores que moram em apartamentos do Senado abriram mão do auxílio-moradia. Portanto, a direção do Senado tinha conhecimento de que três senadores espertos recebiam um auxílio dispensável. E ela jamais fez nada. Porque a lei “tem de ser igual, etc…”
José Sarney (PMDB-AP) é dono de uma confortável casa em Brasília há muitos anos. Mas somente hoje, depois que o jornal Folha de S. Paulo noticiou o assunto, foi que ele se deu conta de que também recebia auxílio-moradia sem necessidade alguma. Pediu desculpas e prometeu reembolsar o Senado.
Ora, se Sarney devolverá o que ele mesmo admite que não deveria ter recebido, como ficarão aqueles que recebem auxílio-moradia e ocupam apartamentos do Senado que nada lhes custam?
(A propósito: quantos dos 513 deputados se encontram na mesma situação?)
Algo como 95% dos brasileiros vivem com uma renda mensal inferior a R$ 3,8 mil.
Um bando alegre de senadores não paga aluguel e ainda ganha R$ 3,8 mil mensais para morar em apartamentos do Senado.
Sarney pensa que ficará bem diante da opinião pública devolvendo a grana que não deveria ter recebido, que jamais notara que recebia.
Em fevereiro passado quando se descobriu que o Senado pagara alguns milhões de reais a título de hora extra trabalhada para mais de 3 mil servidores que haviam folgado durante o recesso de fim de ano, Sarney teve atitude parecida com a de hoje.
Mandou descontar do salário dos funcionários do seu gabinete o que eles haviam recebido indevidamente. Deve ter achado que com isso ficaria bem na foto.
Até teria ficado se ele fosse apenas um senador. Mas Sarney é o presidente do Senado. Sua responsabilidade é maior do que a dos seus pares. Suas atribuições, também. Igualmente seus privilégios.
Se ele julga errado ser dono de imóvel em Brasília e ter direito a auxílio-moradia, proponha acabar com o auxílio-moradia para senador dono de imóvel em Brasília ou ocupante de apartamento funcional.
Se a proposta for rejeitada pela maioria dos seus colegas de direção do Senado, ele poderá submetê-la a voto em plenário. Se mesmo aí ela for derrotada, bem… Aí Sarney ficará bem na foto.
Ficaria até melhor se aproveitasse a ocasião para renunciar à presidência do Senado diante do fracasso do seu empenho em tentar moralizá-lo.
Sarney e mais 3 recebiam ‘bolsa moradia’ sem saber
Josias de Souza
A cena, por ficcional, pede uma analogia literária. Recorra-se, então, à frase de um personagem de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.
Descobriu-se que a Viúva vinha pagando indevidamente a quatro senadores um auxílio-moradia. Coisa de R$ 3.800 por mês.
Entre os infratores estava José Sarney (PMDB-AP), o presidente do Senado. Mora em casa própria. Uma solarenga mansão no Lago Sul, bairro chique de Brasília.
Além de Sarney, beliscavam indevidamente o benefício o petista João Pedro (AM), o tucano Cícero Lucena (PB) e o ‘demo’ Gilberto Gollner (MT).
A trinca dispõe de confortáveis apartamentos funcionais, custeados pela vulnerável e veneranda $enhora.
Na última terça (26), inquirido sobre o inacreditável, Sarney soara peremptório. Disse que “nunca” recebera o auxílio-moradia.
Nesta quinta (28), Sarney viu-se compelido a reconhecer o inaceitável: “Eu nunca pedi auxílio…”
“…Por um equívoco, a partir do meio de 2008, verificaram que realmente estavam depositando na minha conta…”
“…Mas eu já mandei dizer que retirassem porque nunca requeri e tinha a impressão que não estava recebendo. Eu dei uma informação errada e peço desculpas”.
Em verdade, o famigerado auxílio vinha pingando –inadvertidamente— na conta de Sarney desde maio de 2007. Tudo somado, chega-se a R$ 79.800.
Sarney, que nada viu, promete devolver. Reunida nesta quinta, a Mesa diretoria do Senado decidiu que também os outros três terão de devolver o malversado.
Houve má fé? Não, não. Absolutamente. Entendeu-se que João Pedro, Cícero Lucena e Gilberto Gollner não incorreram em malfeito.
Deus, como se sabe, existe. Mas parece óbvio que Ele não está em toda parte. No Senado, quem dá as cartas é Asmodeu.
Ali, a dissimulação é o mais próximo que o homem se permite chegar da
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